Monday, October 19, 2009

O Dono do Mundo

A ferocidade com a qual eu tenho externado meus sentimentos tem me feito bem. Na última noite eu pude dormir – o sono de uma fera ferida, mas dormi. E o tempo lá fora reflete o tempo aqui dentro. Não, meus sentimentos não seguem clima, o clima segue meus sentimentos. Sou o dono do mundo, o senhor da existência. Do meu mundo. Da minha existência. Eu sou o meu deus, Meu Deus!

In My Red All Stars.

Eu cansei de ser inútil. Não que eu ache que reclamar para o papel vai ter alguma utilidade, mas ficar rolando na cama vai me enlouquecer. Eu ouço gritos na minha cabeça; meus próprios gritos. Não é que eu tenha medo de alguma coisa. Mas um desespero inexplicável me domina, como se eu não tivesse nascido para ser feliz. Eu olho logo atrás de mim e vejo que meu dia foi disperdiçado com sorrisos bobos por quem eu nem sei se veio para ficar ou está de breve passagem pela minha vida. Olho mais ao longe, ainda atrás de mim e continuo sem ver algo de que posso me orgulhar.

Eu já superei aquela fase de achar que estou velho demais ou que nasci sem talento. Depois que me descobri uma ótima companhia para mim mesmo, vejo que eu posso fazer minha vida feliz a qualquer momento. E POR QUE EU NÃO COMECEI AINDA? É, parece que nem todas as perguntas foram respondidas ainda. Eu sei que nasci para a arte (e se não tivesse nascido, ainda assim viveria por ela) e a cada letra que meus dedos tocam, a cada palavra que se forma, eu tenho mais certeza de que é isso que eu quero. Escrever, ler, fazer amor com as palavras, as frases, as línguas. Eu quero expressar minha opinião e formar a dos outros. Quero manipular, fazer com que chorem, riam, pensem. Eu quero sucesso, claro que quero! Mas quero que eu seja meu maior admirador. Porque eu sei que nesta vida ou na outra só eu vou permanecer ao meu lado.

E essa vontade louca de gritar? Vou acumulando para um grito que o mundo inteiro vai ouvir. Eu me sinto mal por ter jogado mais um dia fora, talvez eu apenas não tenha sabido como começar. É isso! Eu sei onde quero ir, e como eu quero ir, só não sei onde compram-se as passagens. E talvez seja o maldito medo da falta de dinheiro para comprá-las que me faz hesitante. Eu sou o pior dos hipócritas. Ainda há pouco disse a uma amiga para sonhar, sem pensar no dinheiro. Minhas palavras exatas foram: “Não diga ‘eu terei dinheiro para ir’, diga ‘eu vou’”. Foi muito poético e inspirador para ela, mas agora vejo que não sigo meu próprio conselho. A falta de meios para me realizar é o que me aflige. Preciso mudar isso agora, antes que a vontade de gritar seja substituída pela vontade de chorar. Porque o grito, por mais desesperado que seja, é lúcido. O choro é sensível, só faz aumentar o desespero, é frágil, enlouquecedor. Pessoas loucas sorriem porque numa tentativa de voltarem à racionalidade que as lágrimas lhes tiraram. Não estou sorrindo, não tenho motivos. Talvez tenha dado sorrisos bobos e superficiais por conta de um pouco de atenção que recebi hoje. Mas eu sorri para fora. Enquanto que para mim, a expressão se fechou. Me desapontei ao não ter, mais uma vez, começado a minha vida. Por não ter aprendido números complexos, que eu sei que só têm esse nome para assustar. Por não ter terminado de ler um livro. Por ter cogitado perder a esperança, a crença, a fé.

Fé. Vamos falar de Deus. Ah, como falar disso aumenta minha vontade de gritar. Acredito em Deus tanto quanto acredito em mim. Mas juro que não sei mais de que forma eu acredito. Se Ele tem uma forma, uma racionalidade, sentimentos, ou se é uma grande extensão de energia que envolve tudo e move o destino como uma planária move o alimento dentro de si. As duas maneira me parecem tão sensatas e tão irracionais ao mesmo tempo. E por ser a causa primária de tudo, o grande criador causa também meu desespero. Eu quero ser um bom "filho", uma boa pessoa. Eu quero evoluir, e Ele continua sem me dizer – dizer claramente, acho que Ele tem dado pistas – de como fazê-lo. Ó, Senhor, se estás lendo isso (no papel, ou nas cicatrizes da minha alma) me salva dessa agonia. Dessa agonia escassa de lágrimas, repleta de dores físicas e emocionais.

E quando eu deixo as idéias se sobrepujarem demais, fico sem saber o que escrever. Acabo sendo repetitivo e prolixo, mas só a pedra bruta pode ser lapidada. Eu queria poder escrever bem sobre os problemas sociais, mas eu não quero ser um revolucionário de sofá! Prefiro me calar do que reclamar sem tentar mudar. E eu me envergonho disso. Eu sei que estou aqui pra mudar alguma coisa. Mas aí sim entra o medo. Medo de quê? Boa pergunta. Ou talvez seja preguiça – ainda acho que é o meu maior problema. Ao menos me calo para não ser hipócrita. Eu pedi inspiração, ela veio. Agora eu preciso de músculos para agir, mas isso eu não posso pedir. Nem músculos físicos, nem músculos... bom, músculos não físicos. Eu odeio malhar e estou profundamente insastisfeito com meu corpo. Resultado dessa soma? Mais um pouco de desespero. Aprendi a gostar da minha personalidade, mas não espero que ninguém goste de mim só por ela. E também não quero passar o resto da minha vida tendo que me conformar com isso. E vem de novo o desespero.

Gritar, gritar! Eu tenho direito ao grito, já dizia Clarice Lispector. Ah, minha amada Clarice, talvez você estivesse errada. Se eu gritar agora, serei taxado de louco, de arruaceiro. Já passa das duas da manhã e meu grito superaria a quantidade de decibéis permitidos pela lei. Não! Perdão! Perdão, Clarice! Certa estava você, eu deveria poder gritar. Errados estão os que me privam disso. Como pude ser tão tolo? As leis me enojam. E não quero que isso soe ranzinza ou irracional. Mas me enojam. Elas são as regras do jogo no qual querem me usar como peão. Desculpe, não tenho vocação para peão. Talvez eu esteja mais para cavalo. Aceite meu coice e suma daqui! É com essa submissão que eu brigo, não com a que eu devo a Deus. Perdoe-me, Senhor, mais uma vez eu me enganei.

Me sinto um néscio agora que vejo como eu poderia ter aliviado parte da minha carga nas letras. Mas ainda não toda. Sou um adolescente, fazer o quê? Em época de vestibular! Agora sim, a vontade de chorar. Eu continuo dizendo a mim mesmo que perder as esperanças é errado. Eu preciso acreditar que vou passar, por mais que as estatísticas sejam contrárias. Mas eu quero tanto isso que a idéia de não ter me dói fisicamente. Ei!, e de onde veio essa idéia? Ah, me deram por aí. E uma vez que eu a aceitei, não tem como eu largá-la. Olhando por cima do muro que esse medo construiu, vejo que se não for aprovado, não morrerei. Ufa. Ufa nada. Vou me deprimir, me depreciar, estudar o dobro. E não, isso não é bom. Esse estudo não é saudável. A vida é o melhor dos aprendizados, e grudar meu nariz sobre matérias básicas que o sistema (odeio esse termo tão clichê) obriga a todos aprenderem me priva da vida!

Grr, e volta o desespero do dinheiro. Maldito ciclo vicioso. Mas ah, sim, eu vou quebrá-lo. Espere só. Eu também espero. Escrevi com uma ferocidade aliviante. Agradeço a mim mesmo por essa oportunidade e a mim mesmo de novo por me apoiar na minha causa. Agradeço a Clarice, minha diva. A Deus, meu criador. E... Bom, aguardem, vocês ainda vão ouvir falar de mim.