Wednesday, November 25, 2009

Precocidade

De um lado uma xícara de café, do outro um cigarro. Na minha frente, palavras. Cresci demais, desde que aprendi a crescer. Nasci grande demais para o útero da minha mãe e agora estou grande demais para a minha casa. Estou com a crise da meia idade na adolescência.

Monday, November 9, 2009

Eu sinto como se tudo doesse ao mesmo tempo, mesmo com uma morfina tão forte. Eu estou bem alto, bem longe, uma órbita além - mas não posso ver o pôr do sol sem pegar fogo. É uma felicidade que dói. Como a tal felicidade clandestina, de Clarice, mas menos poético; quem me dera ser tão refinado quanto ela.

Sal Grosso

Eu preciso de alguém que me odeie!
Porque um tapa eu posso revidar,
mas e essa dor que eu estou sentindo
eu não tenho a quem culpar.

E esse grito sufocado
posso gritar para qual vento?
E se quando dói a gente chora,
porque só choro por dentro?

Minhas lágrimas são pedras de sal
tão grosso que eu não posso externar.
Uma febre interna, uma necrose
algo podre que comi e não posso vomitar.

Saturday, November 7, 2009

Às avessas.

Desculpe o meu ar de sofrimento. Não é que eu queira me fazer de vítima ou esteja esperando a compaixão alheia, mas também não exija nada de mim. O sofrimento é gratuito, só a felicidade não o é.

Mas se te interessa saber o porquê do meu desgosto, eu digo. O que me magoa é a minha insatisfação, ela me corrói, me maltrata. Não me deixa chegar perto da alegria, da felicidade, é como uma muralha de dor maciça que, mais dia ou menos dia, desabará sobre mim.

A insatisfação é um jarro d'água que me deixa sedento, é como ter de tomar veneno para sobreviver. Eu me vejo com tantas faces, me vejo vivendo tantas vidas e o tempo é tão convicto ao me dizer que vou morrer sem ter tudo o que eu quero ter. E não posso priorizaro que gosto mais, porque não é o que eu gosto mais que eu quero. Eu quero tudo, desde meus amores mais platônicos até meus ódios mais mortais e destrutivos.

Eu tenho esse ar de sofrimento porque não estou completo, entende? O universo é uma parte arrancada de mim que eu já não posso reconstituir. Minha felicidade me foi amputada e só me resta sangrar eternamente, e enquanto voo de flor em flor tentando ver as cores, me dói por não ser pássaro. E quando em forma de pássaro, choro por não ser da água. E se fosse peixe, me faltaria ser planta; e quando tivesse raízes, me faltaria ser o ar; me faltaria ser o céu; me faltaria ser estrela do céu e estrela do mar.

Agora você entende minha sofreguidão? Entende o fremir de minhas mão desalentadas, entende quando meus olhos marejam? Diz que me entende, porque eu quero ser o compreendido e quero ser a incompreensão. Eu quero ler todos os livros, ouvir as músicas e ver os filmes, tudo isso para amá-los e odiá-los sem poder medir o quanto. Então diz que me entende, porque essa vida miserável de provar todos os pratos sem nunca me alimentar é o que está me matando e só me resta ser nessa existência ao contário, em que eu vivo a morte agora para só poder viver quando não mais existir.