Saturday, November 7, 2009

Às avessas.

Desculpe o meu ar de sofrimento. Não é que eu queira me fazer de vítima ou esteja esperando a compaixão alheia, mas também não exija nada de mim. O sofrimento é gratuito, só a felicidade não o é.

Mas se te interessa saber o porquê do meu desgosto, eu digo. O que me magoa é a minha insatisfação, ela me corrói, me maltrata. Não me deixa chegar perto da alegria, da felicidade, é como uma muralha de dor maciça que, mais dia ou menos dia, desabará sobre mim.

A insatisfação é um jarro d'água que me deixa sedento, é como ter de tomar veneno para sobreviver. Eu me vejo com tantas faces, me vejo vivendo tantas vidas e o tempo é tão convicto ao me dizer que vou morrer sem ter tudo o que eu quero ter. E não posso priorizaro que gosto mais, porque não é o que eu gosto mais que eu quero. Eu quero tudo, desde meus amores mais platônicos até meus ódios mais mortais e destrutivos.

Eu tenho esse ar de sofrimento porque não estou completo, entende? O universo é uma parte arrancada de mim que eu já não posso reconstituir. Minha felicidade me foi amputada e só me resta sangrar eternamente, e enquanto voo de flor em flor tentando ver as cores, me dói por não ser pássaro. E quando em forma de pássaro, choro por não ser da água. E se fosse peixe, me faltaria ser planta; e quando tivesse raízes, me faltaria ser o ar; me faltaria ser o céu; me faltaria ser estrela do céu e estrela do mar.

Agora você entende minha sofreguidão? Entende o fremir de minhas mão desalentadas, entende quando meus olhos marejam? Diz que me entende, porque eu quero ser o compreendido e quero ser a incompreensão. Eu quero ler todos os livros, ouvir as músicas e ver os filmes, tudo isso para amá-los e odiá-los sem poder medir o quanto. Então diz que me entende, porque essa vida miserável de provar todos os pratos sem nunca me alimentar é o que está me matando e só me resta ser nessa existência ao contário, em que eu vivo a morte agora para só poder viver quando não mais existir.

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