Monday, August 31, 2009

Ceticismo.

Pode até ser que meu ceticismo
Tenha sido bom, afinal
Deus tem me dado muitos milagres
Para levantar Sua moral.

Monday, August 24, 2009

Ao seu lado

Abriu os olhos e não conseguiu acreditar no que via. Não era sonho, não se atrevia a sonhar tão alto. Apesar da solidez da textura, das formas bem contornadas, tudo era surreal. Cabeça pesada, gosto pungente, cheiro de ressaca. Havia bebido e não se lembrava de nada. E nem conseguia usar a cabeça. Não ousava se mexer, temendo que tudo fosse embora. Não piscava os olhos, temendo que tudo sumisse. Via tudo o que sempre quis. Não, era mais do que sempre quis. O corpo esguio ao seu lado estava deitado de costas, exibindo músculos rijos e curvas douradas que sempre lhe provocaram espasmos de desejo, e que agora estavam ao alcance de seus dedos paralisados. Havia cobiçado aquele corpo e aquela alma por tanto tempo que havia se esquecido de desejá-lo para si. Acusava seus olhos de traição, seus ouvidos de estarem enganados e sua cabeça de estar insana. Aquele homem deitado ao seu lado era uma miragem, seu calor, um delírio, seu cheiro não passava de uma alucinação. Não se lembrava da noite passada, não se lembrava porque o amava tanto, não se lembrava onde estavam suas roupas, nem sua sanidade. Sentia o corpo gritar o excesso de alcool, e a mente pelo excesso de informação. Não conseguia acreditar no que via. Mas também não queria desacreditar. Passara todo o tempo julgando-se insuficiente para o homem que agora estava ao seu lado, que o impossível lhe parecia querer ser desafiado agora. Os lençóis começaram a se mexer. Preparou-se para ver tudo se esvair, virar fumaça. O corpo se virou,os cabelos curtos e castanhos esfregavam-se no travesseiro, enquanto o pescoço se virava para revelar o rosto com o qual havia dormido. Mostrando a boca bem desenhada, a barba semi-cerrada, e os olhos ainda fechados, como um o momento que precede o primeiro raio de sol. Aproveitava os ultimos segundos da ilusão, equanto as palpebras dele abriam-se sonolentamente, revelando olhos verdes e brilhantes também de ressaca. Quando o olhar tomou foco, veio acompanhado de um sorriso. Fechou e abriu os olhos não conseguiu acreditar no que via. Por não confiar nos olhos, passou a usar o tato.


inspirado nos olhos de G.C.B.

Wednesday, August 19, 2009

Ensaio sobre o daltonismo

Vamos esclarecer uma coisa: não é que meu céu seja roxo, meus roxos é que tem a cor do céu (:
Procurei descanso em meu sono, meu sono em meus calmantes e meus calmantes na gaveta, mas minha paz não estava no descanso, nem em meus calmantes e nem na gaveta.

Tuesday, August 18, 2009

- Estou ferido.
- E eu com a faca ensanguentada na mão - um flagrante incontestável. Nem tudo é tão óbvio.

Saturday, August 15, 2009

Egoísmo.

Não é preciso ensinar aos seus filhos
a não dar dinheiro a estranhos
egoísmo é simplesmente tão próprio
do próprio ser humano.
Vingança é do mal, é errado
Mas você há de convir que para a auto-estima
ela faz um bem danado.

Vou arder no inferno,
não nego.
Vendi minha alma para meu próprio ego.

Thursday, August 13, 2009

Hollywoodiano.

- Eu sou só o carinha que você quer ficar?

- Não – respondi, achando a pergunta boba – quero que você seja meu.

- Então vamos devagar.

- Então você é só o carinha que eu quero ficar.

E fizemos um sexo ótimo.

Sentei na cama meio sem rumo. Sabia que a cama estava mais vazia que a noite passada. Ele tinha um corpo tão escorregadio quanto branco. No criado mudo duas taças machadas de vinho e um maço de cigarros vazio. Senti um pouco de desespero pela falta do corpo esguio que deveria estar lá. Deve estar fazendo o café.

No espelho do banheiro, um bilhete grudado:

Gostaria de ter feito seu café, mas isso é coisa para marido. Eu sou só o cara que você queria ficar. Talvez eu seja um amante hollywoodiano.

- Ora, não seja bobo – pensei. – É claro que eu te quis pra sempre. Não sabia se chorava ou deixava passar. Ou me jogava pela janela. Fui fazer café.

E ele estava sentado no balcão da cozinha, só de cueca branca – não tão mais branca que sua pele – com uma xícara de café. Talvez ele fosse um amor hollywoodiano.

Sunday, August 9, 2009

Um dia me perguntaram por que o mar não se apaixona por uma lagoa. Acho que o mar é esperto em fazer isso, já que todas as lagoas são apaixonadas pelo céu. Acho que o mar é apaixonado pelas estrelas, ele as tem dentro de si.