Monday, August 24, 2009

Ao seu lado

Abriu os olhos e não conseguiu acreditar no que via. Não era sonho, não se atrevia a sonhar tão alto. Apesar da solidez da textura, das formas bem contornadas, tudo era surreal. Cabeça pesada, gosto pungente, cheiro de ressaca. Havia bebido e não se lembrava de nada. E nem conseguia usar a cabeça. Não ousava se mexer, temendo que tudo fosse embora. Não piscava os olhos, temendo que tudo sumisse. Via tudo o que sempre quis. Não, era mais do que sempre quis. O corpo esguio ao seu lado estava deitado de costas, exibindo músculos rijos e curvas douradas que sempre lhe provocaram espasmos de desejo, e que agora estavam ao alcance de seus dedos paralisados. Havia cobiçado aquele corpo e aquela alma por tanto tempo que havia se esquecido de desejá-lo para si. Acusava seus olhos de traição, seus ouvidos de estarem enganados e sua cabeça de estar insana. Aquele homem deitado ao seu lado era uma miragem, seu calor, um delírio, seu cheiro não passava de uma alucinação. Não se lembrava da noite passada, não se lembrava porque o amava tanto, não se lembrava onde estavam suas roupas, nem sua sanidade. Sentia o corpo gritar o excesso de alcool, e a mente pelo excesso de informação. Não conseguia acreditar no que via. Mas também não queria desacreditar. Passara todo o tempo julgando-se insuficiente para o homem que agora estava ao seu lado, que o impossível lhe parecia querer ser desafiado agora. Os lençóis começaram a se mexer. Preparou-se para ver tudo se esvair, virar fumaça. O corpo se virou,os cabelos curtos e castanhos esfregavam-se no travesseiro, enquanto o pescoço se virava para revelar o rosto com o qual havia dormido. Mostrando a boca bem desenhada, a barba semi-cerrada, e os olhos ainda fechados, como um o momento que precede o primeiro raio de sol. Aproveitava os ultimos segundos da ilusão, equanto as palpebras dele abriam-se sonolentamente, revelando olhos verdes e brilhantes também de ressaca. Quando o olhar tomou foco, veio acompanhado de um sorriso. Fechou e abriu os olhos não conseguiu acreditar no que via. Por não confiar nos olhos, passou a usar o tato.


inspirado nos olhos de G.C.B.

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