Fui caminhando rápido na pressa de não chegar
- Mãe, você está com raiva de mim?
- Não estou com raiva, estou magoada.
- Ah, sim – disse, saindo do quarto escuro onde ela remoía o que vira.
- Minha mágoa não te importa, então?
- Não é que não me importe, mas quanto à raiva eu poderia fazer algo. Quanto à mágoa, só posso sentir culpa.
E a culpa é um prelúdio que pede perdão incessantemente, é uma canção triste. Só podia resignar-me a sentir o que doía nela.
Ah, mãe, não me culpe por não precisar de você. E não culpe-se também. Mas eu cresci tanto que eu já não posso te necessitar, e nem o quero, como você não quis precisar de tua mãe. Esse egoísmo quase biológico é tão natural. Dá a continuidade à essa vida humana sem sentido.
E eu queria poder me perdoar. Eu peço perdão pelas coisas que já te disse, e esse pedido está nas coisas que nunca te disse, como o quanto eu te amo. Mas eu jamais precisara dizer que te amava. Você sempre soube, porque é assim que tem de ser, eu te amar e por ti ser amado. E como eu nunca questionei teus segredos, nem mesmo te questionei os meus segredos, me reservo o direito de manter meu sangue escorrendo lento e mudo. E sei que sua compaixão também é quieta, nos teus olhos severamente tristes. Assim, entrementes, vivemos.
Agora sossega em tua cama e volta ao sono do qual te arranquei. Não posso te devolver a vida e a liberdade que tinhas, pois a luz você me deu e agora não tem mais volta. Então padece, mãe, no teu paraíso, que eu tento ser feliz no meu inferno.
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