Eu sempre soube. Mesmo antes do primeiro beijo com gosto de realização proibida dado em outro menino. Não há pergunta mais infame do que “Quando você se descobriu?”. Eu sempre me soube. Quando minha alma ainda não estava enlaçada em meu corpo e flutuava pelo cosmos pintando a boca de batom vermelho como o sangue que eu ainda não tinha eu já sabia. Minha alma de cintura fina e seios fartos a qual foi entregue aos gametas errados.
Até menarca eu tive. O sangue não me escorria de uma fenda por entre as pernas, mas do meu coração que partia e repartia quando ouvia das bocas de meus pais frases de repulsa às pessoas que eram o que eu fingia não ser. Fingia para eles e fingia para mim. Ora, não posso dizer que sempre estive satisfeito com minha condição, eu também era enganado com o conto de que só se é feliz casando-se e tendo filhos.
Mas meu fingimento não era mais que uma espera. Fatos iminentes. Enquanto percorria a extensão dos meus desejos por corpos másculos, eu alcançava a plenitude dos orgamos juvenis solitários. E depois, não mais solitários.
Eu tinha a plenitude. Eu não era mais a alma feminina no corpo de menino homem. Minha alma ganhara um falo como o de meu corpo e quando com o peso de outro macho sobre mim, ela voltava ao cosmos por um instante.
Traindo o segredo da grande seita – sim, gays parecem ser uma seita – externei ao mundo de fora as minhas vontades. Foi como um salto infinito. Enquanto vomitavam seus preconceitos eu deixava para trás minhas náuseas. Não esperava que alguém gostasse da idéia, mas meu fingimento-espera chegara ao fim. Não tinha mais a plenitude dentro de mim; eu era a plenitude. Por dentro e por fora. Eu podia sorrir com os dentes que eu antes escondia. Eu não precisava mais me esconder por detrás das nuvens, eu andava sobre o arco-íris.
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