Sunday, January 17, 2010

Caralho, é tão difícil começar. E não é como se eu não soubesse o que eu quero, essa história não existe; há os que vão atrás do que querem e há os que têm medo de ir, então dizem que não sabem o que querem. Porque por mais foda que seja a crise, sempre há aquele sonho antigo, aquela vontade presa no âmago, seja de ir à Paris ou tomar um Häagen-Dasz. Caralho, é tão difícil. A vida tem todo o seu curso natural, tem a porra dos instintos, mas não é tão simples assim. A gente que tomar decisões, lidar com sentimentos, conviver com pessoas. Ah, Caralho.
Eu sei, eu deveria parar de falar tanto palavrão, mas foda-se. Eu já parei de fumar, estão felizes? Já não bebo tanto. Sem refrigerantes há meses, 4 anos de vegetarianismo. Eu não to reclamando, eu fico feliz de provar minha força de vontade e me livras dessas merdas que me fazem mal. E tudo o que eu fiz foi de livre e espontânea vontade, ou não. Mas não me exija mais nada. Não me peça para ser educado, para não beber tanto café, para comer direito. Minha sanidade mental está por um triz, cara. Eu já tenho insônia, tontura, palpitações e agora eu me sinto só. Caralho de solidão. Queria abdicar dela também, mas ela não é um vício. O vício é o abraço, e não é uma droga que eu possa comprar. Tá tão difícil viver na carência, na falta de amor, na falta de sexo. Eu já não sei mais conquistar, eu já não sei mais ser conquistado, eu só sei escrever.

Thursday, December 31, 2009

Obrigado, Ano Velho.

Dois mil e nove chega ao fim e eu aprendi muita coisa este ano, principalmente a evitar clichês. Mas se clichês nunca morrem, talvez haja uma boa razão para usá-los de vez em quando. De fato, não sei se saberia me expressar agora sem a tão usada e batida frase “eu aprendi que”. E por mais pesado que possa parecer isso, o que eu mais aprendi é a ser mais leve. Aprendi que devo falar menos – não que eu tenha conseguido falar menos, mas é uma das minhas metas.

Dois mil e nove foi uma bola de neve; tanta coisa aconteceu, com algumas eu aprendi, com outras só me diverti. O que eu aprendi não é datado, não tem um marco inicial, não tem hora marcada. Ninguém aprende nada do dia para a noite; só nos damos contas de certas coisas do dia para a noite.

Dois mil e nove teve as emoções mais fortes, mas foi quando eu aprendi a prestar mais atenção nas emoções pequenas. Foi quando aprendi de verdade que nada em excesso é bom, a buscar sempre o equilíbrio.

Dois mil e nove foi o ano que eu mais mudei até agora. E aprendi a esperar os resultados. Aprendi que não há arrependimento e nem perdão: há o que você fez e as consequências disso.

Dois mil e nove foi quando eu conheci pessoas especiais (e aqui vamos nós para outro clichê), algumas que eu tenho certeza que vão se demorar pela minha vida.

Dois mil e nove acabou e eu agradeço por ter acabado, mas agradeço também por ter acontecido.

Sunday, December 13, 2009

Maternidade

Fui caminhando rápido na pressa de não chegar em casa. Na casa que não é meu lar, e morar fora do lar machuca. Mais um dia que eu não consegui sorrir integralmente. Foram sombras de alegria até que minha mãe me visse fora da minha jaula. Não me vira nu, como vim ao mundo, nem dilacerado como sou sob as vestes. Me vira com minhas mil máscaras tristes e incorretas, de fumar, beber, falar merda, com pessoas que ela não gosta antes de conhecer.

- Mãe, você está com raiva de mim?

- Não estou com raiva, estou magoada.

- Ah, sim – disse, saindo do quarto escuro onde ela remoía o que vira.

- Minha mágoa não te importa, então?

- Não é que não me importe, mas quanto à raiva eu poderia fazer algo. Quanto à mágoa, só posso sentir culpa.

E a culpa é um prelúdio que pede perdão incessantemente, é uma canção triste. Só podia resignar-me a sentir o que doía nela.

Ah, mãe, não me culpe por não precisar de você. E não culpe-se também. Mas eu cresci tanto que eu já não posso te necessitar, e nem o quero, como você não quis precisar de tua mãe. Esse egoísmo quase biológico é tão natural. Dá a continuidade à essa vida humana sem sentido.

E eu queria poder me perdoar. Eu peço perdão pelas coisas que já te disse, e esse pedido está nas coisas que nunca te disse, como o quanto eu te amo. Mas eu jamais precisara dizer que te amava. Você sempre soube, porque é assim que tem de ser, eu te amar e por ti ser amado. E como eu nunca questionei teus segredos, nem mesmo te questionei os meus segredos, me reservo o direito de manter meu sangue escorrendo lento e mudo. E sei que sua compaixão também é quieta, nos teus olhos severamente tristes. Assim, entrementes, vivemos.

Agora sossega em tua cama e volta ao sono do qual te arranquei. Não posso te devolver a vida e a liberdade que tinhas, pois a luz você me deu e agora não tem mais volta. Então padece, mãe, no teu paraíso, que eu tento ser feliz no meu inferno.

Saturday, December 12, 2009

Sobre o Arco-Íris.

Eu sempre soube. Mesmo antes do primeiro beijo com gosto de realização proibida dado em outro menino. Não há pergunta mais infame do que “Quando você se descobriu?”. Eu sempre me soube. Quando minha alma ainda não estava enlaçada em meu corpo e flutuava pelo cosmos pintando a boca de batom vermelho como o sangue que eu ainda não tinha eu já sabia. Minha alma de cintura fina e seios fartos a qual foi entregue aos gametas errados.

Até menarca eu tive. O sangue não me escorria de uma fenda por entre as pernas, mas do meu coração que partia e repartia quando ouvia das bocas de meus pais frases de repulsa às pessoas que eram o que eu fingia não ser. Fingia para eles e fingia para mim. Ora, não posso dizer que sempre estive satisfeito com minha condição, eu também era enganado com o conto de que só se é feliz casando-se e tendo filhos.

Mas meu fingimento não era mais que uma espera. Fatos iminentes. Enquanto percorria a extensão dos meus desejos por corpos másculos, eu alcançava a plenitude dos orgamos juvenis solitários. E depois, não mais solitários.

Eu tinha a plenitude. Eu não era mais a alma feminina no corpo de menino homem. Minha alma ganhara um falo como o de meu corpo e quando com o peso de outro macho sobre mim, ela voltava ao cosmos por um instante.

Traindo o segredo da grande seita – sim, gays parecem ser uma seita – externei ao mundo de fora as minhas vontades. Foi como um salto infinito. Enquanto vomitavam seus preconceitos eu deixava para trás minhas náuseas. Não esperava que alguém gostasse da idéia, mas meu fingimento-espera chegara ao fim. Não tinha mais a plenitude dentro de mim; eu era a plenitude. Por dentro e por fora. Eu podia sorrir com os dentes que eu antes escondia. Eu não precisava mais me esconder por detrás das nuvens, eu andava sobre o arco-íris.

Friday, December 11, 2009

Fera

Sinto a felicidade me espreitando. Sinto-a lançando seus odores pelo ar, avisando que está próxima, tentando paralisar-me para então dar-me o bote.

Assustado, finjo-me de morto. Tenho medo da felicidade, medo de ser feliz errado. Sempre fui tão bom em ser triste que me sinto incapaz de ser qualquer outra coisa.

Ela me rodeia, me vigia, deixa os sinais de sua eminência. O júbilo que me aguarda promete ser cruel, me afogar na alegria sem espaços para respirar.

Eu, que sempre tentei ser uma pessoa boa, mas sempre preguei que não o era. Ora, não é isso que as pessoas fazem? Dizem que ninguém está próximo de ser uma pessoa boa? Não é isso que elas fazem? Não serem boas?

Eu, que sempre cultivei minhas virtudes e sempre as escondi sob a saia dos meus defeitos. Ora, não é isso que as pessoas fazem? Dizem que temos que devemos enxergar nossos defeitos? Não é isso que elas fazem? Enxergar nossos defeitos?

Sinto a mudança chegando, sinto o gosto da liberdade doce. Acostumei-me tão bem com o amargo na boca e assim, de chofre, vem o deleite da doçura me tontear.

Depois do céu azul cheio de nuvens brancas vêm as nuvens escuras, que lançam a garoa e depois a tempestade, para então deixar o Sol brilhar. Minhas pupilas ajustadas ao tempo nublado doem na claridade do dia aberto. Minha pele branca de morte arde, queima, assa ao calor humano.

Ah, eu que sempre aprendi a ser sozinho com medo de ficar sozinho. E não é isso que as pessoas fazem? Dizem que no final todos ficam sozinhos? Não é isso que elas fazem? Não querer ficar sozinhas?

Agora eu tento correr, mas não vejo saída. Só posso então tentar aprender a ser feliz ou ser infeliz por não saber sê-lo.

Wednesday, November 25, 2009

Precocidade

De um lado uma xícara de café, do outro um cigarro. Na minha frente, palavras. Cresci demais, desde que aprendi a crescer. Nasci grande demais para o útero da minha mãe e agora estou grande demais para a minha casa. Estou com a crise da meia idade na adolescência.

Monday, November 9, 2009

Eu sinto como se tudo doesse ao mesmo tempo, mesmo com uma morfina tão forte. Eu estou bem alto, bem longe, uma órbita além - mas não posso ver o pôr do sol sem pegar fogo. É uma felicidade que dói. Como a tal felicidade clandestina, de Clarice, mas menos poético; quem me dera ser tão refinado quanto ela.