Thursday, December 31, 2009

Obrigado, Ano Velho.

Dois mil e nove chega ao fim e eu aprendi muita coisa este ano, principalmente a evitar clichês. Mas se clichês nunca morrem, talvez haja uma boa razão para usá-los de vez em quando. De fato, não sei se saberia me expressar agora sem a tão usada e batida frase “eu aprendi que”. E por mais pesado que possa parecer isso, o que eu mais aprendi é a ser mais leve. Aprendi que devo falar menos – não que eu tenha conseguido falar menos, mas é uma das minhas metas.

Dois mil e nove foi uma bola de neve; tanta coisa aconteceu, com algumas eu aprendi, com outras só me diverti. O que eu aprendi não é datado, não tem um marco inicial, não tem hora marcada. Ninguém aprende nada do dia para a noite; só nos damos contas de certas coisas do dia para a noite.

Dois mil e nove teve as emoções mais fortes, mas foi quando eu aprendi a prestar mais atenção nas emoções pequenas. Foi quando aprendi de verdade que nada em excesso é bom, a buscar sempre o equilíbrio.

Dois mil e nove foi o ano que eu mais mudei até agora. E aprendi a esperar os resultados. Aprendi que não há arrependimento e nem perdão: há o que você fez e as consequências disso.

Dois mil e nove foi quando eu conheci pessoas especiais (e aqui vamos nós para outro clichê), algumas que eu tenho certeza que vão se demorar pela minha vida.

Dois mil e nove acabou e eu agradeço por ter acabado, mas agradeço também por ter acontecido.

Sunday, December 13, 2009

Maternidade

Fui caminhando rápido na pressa de não chegar em casa. Na casa que não é meu lar, e morar fora do lar machuca. Mais um dia que eu não consegui sorrir integralmente. Foram sombras de alegria até que minha mãe me visse fora da minha jaula. Não me vira nu, como vim ao mundo, nem dilacerado como sou sob as vestes. Me vira com minhas mil máscaras tristes e incorretas, de fumar, beber, falar merda, com pessoas que ela não gosta antes de conhecer.

- Mãe, você está com raiva de mim?

- Não estou com raiva, estou magoada.

- Ah, sim – disse, saindo do quarto escuro onde ela remoía o que vira.

- Minha mágoa não te importa, então?

- Não é que não me importe, mas quanto à raiva eu poderia fazer algo. Quanto à mágoa, só posso sentir culpa.

E a culpa é um prelúdio que pede perdão incessantemente, é uma canção triste. Só podia resignar-me a sentir o que doía nela.

Ah, mãe, não me culpe por não precisar de você. E não culpe-se também. Mas eu cresci tanto que eu já não posso te necessitar, e nem o quero, como você não quis precisar de tua mãe. Esse egoísmo quase biológico é tão natural. Dá a continuidade à essa vida humana sem sentido.

E eu queria poder me perdoar. Eu peço perdão pelas coisas que já te disse, e esse pedido está nas coisas que nunca te disse, como o quanto eu te amo. Mas eu jamais precisara dizer que te amava. Você sempre soube, porque é assim que tem de ser, eu te amar e por ti ser amado. E como eu nunca questionei teus segredos, nem mesmo te questionei os meus segredos, me reservo o direito de manter meu sangue escorrendo lento e mudo. E sei que sua compaixão também é quieta, nos teus olhos severamente tristes. Assim, entrementes, vivemos.

Agora sossega em tua cama e volta ao sono do qual te arranquei. Não posso te devolver a vida e a liberdade que tinhas, pois a luz você me deu e agora não tem mais volta. Então padece, mãe, no teu paraíso, que eu tento ser feliz no meu inferno.

Saturday, December 12, 2009

Sobre o Arco-Íris.

Eu sempre soube. Mesmo antes do primeiro beijo com gosto de realização proibida dado em outro menino. Não há pergunta mais infame do que “Quando você se descobriu?”. Eu sempre me soube. Quando minha alma ainda não estava enlaçada em meu corpo e flutuava pelo cosmos pintando a boca de batom vermelho como o sangue que eu ainda não tinha eu já sabia. Minha alma de cintura fina e seios fartos a qual foi entregue aos gametas errados.

Até menarca eu tive. O sangue não me escorria de uma fenda por entre as pernas, mas do meu coração que partia e repartia quando ouvia das bocas de meus pais frases de repulsa às pessoas que eram o que eu fingia não ser. Fingia para eles e fingia para mim. Ora, não posso dizer que sempre estive satisfeito com minha condição, eu também era enganado com o conto de que só se é feliz casando-se e tendo filhos.

Mas meu fingimento não era mais que uma espera. Fatos iminentes. Enquanto percorria a extensão dos meus desejos por corpos másculos, eu alcançava a plenitude dos orgamos juvenis solitários. E depois, não mais solitários.

Eu tinha a plenitude. Eu não era mais a alma feminina no corpo de menino homem. Minha alma ganhara um falo como o de meu corpo e quando com o peso de outro macho sobre mim, ela voltava ao cosmos por um instante.

Traindo o segredo da grande seita – sim, gays parecem ser uma seita – externei ao mundo de fora as minhas vontades. Foi como um salto infinito. Enquanto vomitavam seus preconceitos eu deixava para trás minhas náuseas. Não esperava que alguém gostasse da idéia, mas meu fingimento-espera chegara ao fim. Não tinha mais a plenitude dentro de mim; eu era a plenitude. Por dentro e por fora. Eu podia sorrir com os dentes que eu antes escondia. Eu não precisava mais me esconder por detrás das nuvens, eu andava sobre o arco-íris.

Friday, December 11, 2009

Fera

Sinto a felicidade me espreitando. Sinto-a lançando seus odores pelo ar, avisando que está próxima, tentando paralisar-me para então dar-me o bote.

Assustado, finjo-me de morto. Tenho medo da felicidade, medo de ser feliz errado. Sempre fui tão bom em ser triste que me sinto incapaz de ser qualquer outra coisa.

Ela me rodeia, me vigia, deixa os sinais de sua eminência. O júbilo que me aguarda promete ser cruel, me afogar na alegria sem espaços para respirar.

Eu, que sempre tentei ser uma pessoa boa, mas sempre preguei que não o era. Ora, não é isso que as pessoas fazem? Dizem que ninguém está próximo de ser uma pessoa boa? Não é isso que elas fazem? Não serem boas?

Eu, que sempre cultivei minhas virtudes e sempre as escondi sob a saia dos meus defeitos. Ora, não é isso que as pessoas fazem? Dizem que temos que devemos enxergar nossos defeitos? Não é isso que elas fazem? Enxergar nossos defeitos?

Sinto a mudança chegando, sinto o gosto da liberdade doce. Acostumei-me tão bem com o amargo na boca e assim, de chofre, vem o deleite da doçura me tontear.

Depois do céu azul cheio de nuvens brancas vêm as nuvens escuras, que lançam a garoa e depois a tempestade, para então deixar o Sol brilhar. Minhas pupilas ajustadas ao tempo nublado doem na claridade do dia aberto. Minha pele branca de morte arde, queima, assa ao calor humano.

Ah, eu que sempre aprendi a ser sozinho com medo de ficar sozinho. E não é isso que as pessoas fazem? Dizem que no final todos ficam sozinhos? Não é isso que elas fazem? Não querer ficar sozinhas?

Agora eu tento correr, mas não vejo saída. Só posso então tentar aprender a ser feliz ou ser infeliz por não saber sê-lo.

Wednesday, November 25, 2009

Precocidade

De um lado uma xícara de café, do outro um cigarro. Na minha frente, palavras. Cresci demais, desde que aprendi a crescer. Nasci grande demais para o útero da minha mãe e agora estou grande demais para a minha casa. Estou com a crise da meia idade na adolescência.

Monday, November 9, 2009

Eu sinto como se tudo doesse ao mesmo tempo, mesmo com uma morfina tão forte. Eu estou bem alto, bem longe, uma órbita além - mas não posso ver o pôr do sol sem pegar fogo. É uma felicidade que dói. Como a tal felicidade clandestina, de Clarice, mas menos poético; quem me dera ser tão refinado quanto ela.

Sal Grosso

Eu preciso de alguém que me odeie!
Porque um tapa eu posso revidar,
mas e essa dor que eu estou sentindo
eu não tenho a quem culpar.

E esse grito sufocado
posso gritar para qual vento?
E se quando dói a gente chora,
porque só choro por dentro?

Minhas lágrimas são pedras de sal
tão grosso que eu não posso externar.
Uma febre interna, uma necrose
algo podre que comi e não posso vomitar.

Saturday, November 7, 2009

Às avessas.

Desculpe o meu ar de sofrimento. Não é que eu queira me fazer de vítima ou esteja esperando a compaixão alheia, mas também não exija nada de mim. O sofrimento é gratuito, só a felicidade não o é.

Mas se te interessa saber o porquê do meu desgosto, eu digo. O que me magoa é a minha insatisfação, ela me corrói, me maltrata. Não me deixa chegar perto da alegria, da felicidade, é como uma muralha de dor maciça que, mais dia ou menos dia, desabará sobre mim.

A insatisfação é um jarro d'água que me deixa sedento, é como ter de tomar veneno para sobreviver. Eu me vejo com tantas faces, me vejo vivendo tantas vidas e o tempo é tão convicto ao me dizer que vou morrer sem ter tudo o que eu quero ter. E não posso priorizaro que gosto mais, porque não é o que eu gosto mais que eu quero. Eu quero tudo, desde meus amores mais platônicos até meus ódios mais mortais e destrutivos.

Eu tenho esse ar de sofrimento porque não estou completo, entende? O universo é uma parte arrancada de mim que eu já não posso reconstituir. Minha felicidade me foi amputada e só me resta sangrar eternamente, e enquanto voo de flor em flor tentando ver as cores, me dói por não ser pássaro. E quando em forma de pássaro, choro por não ser da água. E se fosse peixe, me faltaria ser planta; e quando tivesse raízes, me faltaria ser o ar; me faltaria ser o céu; me faltaria ser estrela do céu e estrela do mar.

Agora você entende minha sofreguidão? Entende o fremir de minhas mão desalentadas, entende quando meus olhos marejam? Diz que me entende, porque eu quero ser o compreendido e quero ser a incompreensão. Eu quero ler todos os livros, ouvir as músicas e ver os filmes, tudo isso para amá-los e odiá-los sem poder medir o quanto. Então diz que me entende, porque essa vida miserável de provar todos os pratos sem nunca me alimentar é o que está me matando e só me resta ser nessa existência ao contário, em que eu vivo a morte agora para só poder viver quando não mais existir.

Monday, October 19, 2009

O Dono do Mundo

A ferocidade com a qual eu tenho externado meus sentimentos tem me feito bem. Na última noite eu pude dormir – o sono de uma fera ferida, mas dormi. E o tempo lá fora reflete o tempo aqui dentro. Não, meus sentimentos não seguem clima, o clima segue meus sentimentos. Sou o dono do mundo, o senhor da existência. Do meu mundo. Da minha existência. Eu sou o meu deus, Meu Deus!

In My Red All Stars.

Eu cansei de ser inútil. Não que eu ache que reclamar para o papel vai ter alguma utilidade, mas ficar rolando na cama vai me enlouquecer. Eu ouço gritos na minha cabeça; meus próprios gritos. Não é que eu tenha medo de alguma coisa. Mas um desespero inexplicável me domina, como se eu não tivesse nascido para ser feliz. Eu olho logo atrás de mim e vejo que meu dia foi disperdiçado com sorrisos bobos por quem eu nem sei se veio para ficar ou está de breve passagem pela minha vida. Olho mais ao longe, ainda atrás de mim e continuo sem ver algo de que posso me orgulhar.

Eu já superei aquela fase de achar que estou velho demais ou que nasci sem talento. Depois que me descobri uma ótima companhia para mim mesmo, vejo que eu posso fazer minha vida feliz a qualquer momento. E POR QUE EU NÃO COMECEI AINDA? É, parece que nem todas as perguntas foram respondidas ainda. Eu sei que nasci para a arte (e se não tivesse nascido, ainda assim viveria por ela) e a cada letra que meus dedos tocam, a cada palavra que se forma, eu tenho mais certeza de que é isso que eu quero. Escrever, ler, fazer amor com as palavras, as frases, as línguas. Eu quero expressar minha opinião e formar a dos outros. Quero manipular, fazer com que chorem, riam, pensem. Eu quero sucesso, claro que quero! Mas quero que eu seja meu maior admirador. Porque eu sei que nesta vida ou na outra só eu vou permanecer ao meu lado.

E essa vontade louca de gritar? Vou acumulando para um grito que o mundo inteiro vai ouvir. Eu me sinto mal por ter jogado mais um dia fora, talvez eu apenas não tenha sabido como começar. É isso! Eu sei onde quero ir, e como eu quero ir, só não sei onde compram-se as passagens. E talvez seja o maldito medo da falta de dinheiro para comprá-las que me faz hesitante. Eu sou o pior dos hipócritas. Ainda há pouco disse a uma amiga para sonhar, sem pensar no dinheiro. Minhas palavras exatas foram: “Não diga ‘eu terei dinheiro para ir’, diga ‘eu vou’”. Foi muito poético e inspirador para ela, mas agora vejo que não sigo meu próprio conselho. A falta de meios para me realizar é o que me aflige. Preciso mudar isso agora, antes que a vontade de gritar seja substituída pela vontade de chorar. Porque o grito, por mais desesperado que seja, é lúcido. O choro é sensível, só faz aumentar o desespero, é frágil, enlouquecedor. Pessoas loucas sorriem porque numa tentativa de voltarem à racionalidade que as lágrimas lhes tiraram. Não estou sorrindo, não tenho motivos. Talvez tenha dado sorrisos bobos e superficiais por conta de um pouco de atenção que recebi hoje. Mas eu sorri para fora. Enquanto que para mim, a expressão se fechou. Me desapontei ao não ter, mais uma vez, começado a minha vida. Por não ter aprendido números complexos, que eu sei que só têm esse nome para assustar. Por não ter terminado de ler um livro. Por ter cogitado perder a esperança, a crença, a fé.

Fé. Vamos falar de Deus. Ah, como falar disso aumenta minha vontade de gritar. Acredito em Deus tanto quanto acredito em mim. Mas juro que não sei mais de que forma eu acredito. Se Ele tem uma forma, uma racionalidade, sentimentos, ou se é uma grande extensão de energia que envolve tudo e move o destino como uma planária move o alimento dentro de si. As duas maneira me parecem tão sensatas e tão irracionais ao mesmo tempo. E por ser a causa primária de tudo, o grande criador causa também meu desespero. Eu quero ser um bom "filho", uma boa pessoa. Eu quero evoluir, e Ele continua sem me dizer – dizer claramente, acho que Ele tem dado pistas – de como fazê-lo. Ó, Senhor, se estás lendo isso (no papel, ou nas cicatrizes da minha alma) me salva dessa agonia. Dessa agonia escassa de lágrimas, repleta de dores físicas e emocionais.

E quando eu deixo as idéias se sobrepujarem demais, fico sem saber o que escrever. Acabo sendo repetitivo e prolixo, mas só a pedra bruta pode ser lapidada. Eu queria poder escrever bem sobre os problemas sociais, mas eu não quero ser um revolucionário de sofá! Prefiro me calar do que reclamar sem tentar mudar. E eu me envergonho disso. Eu sei que estou aqui pra mudar alguma coisa. Mas aí sim entra o medo. Medo de quê? Boa pergunta. Ou talvez seja preguiça – ainda acho que é o meu maior problema. Ao menos me calo para não ser hipócrita. Eu pedi inspiração, ela veio. Agora eu preciso de músculos para agir, mas isso eu não posso pedir. Nem músculos físicos, nem músculos... bom, músculos não físicos. Eu odeio malhar e estou profundamente insastisfeito com meu corpo. Resultado dessa soma? Mais um pouco de desespero. Aprendi a gostar da minha personalidade, mas não espero que ninguém goste de mim só por ela. E também não quero passar o resto da minha vida tendo que me conformar com isso. E vem de novo o desespero.

Gritar, gritar! Eu tenho direito ao grito, já dizia Clarice Lispector. Ah, minha amada Clarice, talvez você estivesse errada. Se eu gritar agora, serei taxado de louco, de arruaceiro. Já passa das duas da manhã e meu grito superaria a quantidade de decibéis permitidos pela lei. Não! Perdão! Perdão, Clarice! Certa estava você, eu deveria poder gritar. Errados estão os que me privam disso. Como pude ser tão tolo? As leis me enojam. E não quero que isso soe ranzinza ou irracional. Mas me enojam. Elas são as regras do jogo no qual querem me usar como peão. Desculpe, não tenho vocação para peão. Talvez eu esteja mais para cavalo. Aceite meu coice e suma daqui! É com essa submissão que eu brigo, não com a que eu devo a Deus. Perdoe-me, Senhor, mais uma vez eu me enganei.

Me sinto um néscio agora que vejo como eu poderia ter aliviado parte da minha carga nas letras. Mas ainda não toda. Sou um adolescente, fazer o quê? Em época de vestibular! Agora sim, a vontade de chorar. Eu continuo dizendo a mim mesmo que perder as esperanças é errado. Eu preciso acreditar que vou passar, por mais que as estatísticas sejam contrárias. Mas eu quero tanto isso que a idéia de não ter me dói fisicamente. Ei!, e de onde veio essa idéia? Ah, me deram por aí. E uma vez que eu a aceitei, não tem como eu largá-la. Olhando por cima do muro que esse medo construiu, vejo que se não for aprovado, não morrerei. Ufa. Ufa nada. Vou me deprimir, me depreciar, estudar o dobro. E não, isso não é bom. Esse estudo não é saudável. A vida é o melhor dos aprendizados, e grudar meu nariz sobre matérias básicas que o sistema (odeio esse termo tão clichê) obriga a todos aprenderem me priva da vida!

Grr, e volta o desespero do dinheiro. Maldito ciclo vicioso. Mas ah, sim, eu vou quebrá-lo. Espere só. Eu também espero. Escrevi com uma ferocidade aliviante. Agradeço a mim mesmo por essa oportunidade e a mim mesmo de novo por me apoiar na minha causa. Agradeço a Clarice, minha diva. A Deus, meu criador. E... Bom, aguardem, vocês ainda vão ouvir falar de mim.

Monday, September 21, 2009

Me perguntaram sobre a pena de morte e não, eu não sou a favor.

A pena de morte não é tão radical quanto parece. Homens matam sem dar o menor valor à vida alheia, então por que alguma valor deveria ser conferido à vida deles? Há sete bilhões de pessoas no mundo. Uma a mais, uma a menos. Que diferença faz? Antes matar um bandido do que deixá-lo matar alguém que pode ter algum valor para a sociedade. Somos todos vacas caminhando pelo corredor do abatedouro. Se é assim, que matem primeiro as vacas que não dão leite. Cada um dá valor à própria vida, e só. Se os juízes e os carrascos vão poder dormir bem depois de tirar a vida de alguém, ótimo, que se institua a pena de morte. E se não dormirem bem, ainda será melhor para todos. Antes alguns perderem o sono por culpa do que muitos perderem o sono por medo. Além do mais, quem assassina brutalmente não deve ter lá muitos sentimentos, então não sofrerá tanto assim ao morrer. Sofrerá menos que a pobre vaca que nem sabe o que fez quando é abatida. Assassinos conhecem seus dolos. De alguns são tirados os direitos básicos e em troca eles tiram a vida de outros. Os outros revidam tirando também a vida dos criminosos. Assim, de um em um, a humanidade acaba extinta. Ódio gera ódio. Talvez a solução não seja pena de morte, talvez seja preciso cortar o mal pela raíz, refazer toda a sociedade, evitar gerar criminosos ao invés de eliminá-los.

Sunday, September 20, 2009

Não é um soneto.

Ora, não me venha com essa
De que não se pode viver com pressa
De que é preciso andar a passo lento
E deve-se dar tempo ao tempo.

A vida é rápida e lenta
Como uma grande tormenta
Que traz a destruição e suas dores
E o arco-íris com suas cores.

Tropece, troveje, grite
Não deixe-se levar pelos outros
Dê sua opinião, seu palpite.

Cada um tem sua fé e seu messias
Como cada uma das manhãs
Tem suas cores, luzes e poesias.

Monday, August 31, 2009

Ceticismo.

Pode até ser que meu ceticismo
Tenha sido bom, afinal
Deus tem me dado muitos milagres
Para levantar Sua moral.

Monday, August 24, 2009

Ao seu lado

Abriu os olhos e não conseguiu acreditar no que via. Não era sonho, não se atrevia a sonhar tão alto. Apesar da solidez da textura, das formas bem contornadas, tudo era surreal. Cabeça pesada, gosto pungente, cheiro de ressaca. Havia bebido e não se lembrava de nada. E nem conseguia usar a cabeça. Não ousava se mexer, temendo que tudo fosse embora. Não piscava os olhos, temendo que tudo sumisse. Via tudo o que sempre quis. Não, era mais do que sempre quis. O corpo esguio ao seu lado estava deitado de costas, exibindo músculos rijos e curvas douradas que sempre lhe provocaram espasmos de desejo, e que agora estavam ao alcance de seus dedos paralisados. Havia cobiçado aquele corpo e aquela alma por tanto tempo que havia se esquecido de desejá-lo para si. Acusava seus olhos de traição, seus ouvidos de estarem enganados e sua cabeça de estar insana. Aquele homem deitado ao seu lado era uma miragem, seu calor, um delírio, seu cheiro não passava de uma alucinação. Não se lembrava da noite passada, não se lembrava porque o amava tanto, não se lembrava onde estavam suas roupas, nem sua sanidade. Sentia o corpo gritar o excesso de alcool, e a mente pelo excesso de informação. Não conseguia acreditar no que via. Mas também não queria desacreditar. Passara todo o tempo julgando-se insuficiente para o homem que agora estava ao seu lado, que o impossível lhe parecia querer ser desafiado agora. Os lençóis começaram a se mexer. Preparou-se para ver tudo se esvair, virar fumaça. O corpo se virou,os cabelos curtos e castanhos esfregavam-se no travesseiro, enquanto o pescoço se virava para revelar o rosto com o qual havia dormido. Mostrando a boca bem desenhada, a barba semi-cerrada, e os olhos ainda fechados, como um o momento que precede o primeiro raio de sol. Aproveitava os ultimos segundos da ilusão, equanto as palpebras dele abriam-se sonolentamente, revelando olhos verdes e brilhantes também de ressaca. Quando o olhar tomou foco, veio acompanhado de um sorriso. Fechou e abriu os olhos não conseguiu acreditar no que via. Por não confiar nos olhos, passou a usar o tato.


inspirado nos olhos de G.C.B.

Wednesday, August 19, 2009

Ensaio sobre o daltonismo

Vamos esclarecer uma coisa: não é que meu céu seja roxo, meus roxos é que tem a cor do céu (:
Procurei descanso em meu sono, meu sono em meus calmantes e meus calmantes na gaveta, mas minha paz não estava no descanso, nem em meus calmantes e nem na gaveta.

Tuesday, August 18, 2009

- Estou ferido.
- E eu com a faca ensanguentada na mão - um flagrante incontestável. Nem tudo é tão óbvio.

Saturday, August 15, 2009

Egoísmo.

Não é preciso ensinar aos seus filhos
a não dar dinheiro a estranhos
egoísmo é simplesmente tão próprio
do próprio ser humano.
Vingança é do mal, é errado
Mas você há de convir que para a auto-estima
ela faz um bem danado.

Vou arder no inferno,
não nego.
Vendi minha alma para meu próprio ego.

Thursday, August 13, 2009

Hollywoodiano.

- Eu sou só o carinha que você quer ficar?

- Não – respondi, achando a pergunta boba – quero que você seja meu.

- Então vamos devagar.

- Então você é só o carinha que eu quero ficar.

E fizemos um sexo ótimo.

Sentei na cama meio sem rumo. Sabia que a cama estava mais vazia que a noite passada. Ele tinha um corpo tão escorregadio quanto branco. No criado mudo duas taças machadas de vinho e um maço de cigarros vazio. Senti um pouco de desespero pela falta do corpo esguio que deveria estar lá. Deve estar fazendo o café.

No espelho do banheiro, um bilhete grudado:

Gostaria de ter feito seu café, mas isso é coisa para marido. Eu sou só o cara que você queria ficar. Talvez eu seja um amante hollywoodiano.

- Ora, não seja bobo – pensei. – É claro que eu te quis pra sempre. Não sabia se chorava ou deixava passar. Ou me jogava pela janela. Fui fazer café.

E ele estava sentado no balcão da cozinha, só de cueca branca – não tão mais branca que sua pele – com uma xícara de café. Talvez ele fosse um amor hollywoodiano.

Sunday, August 9, 2009

Um dia me perguntaram por que o mar não se apaixona por uma lagoa. Acho que o mar é esperto em fazer isso, já que todas as lagoas são apaixonadas pelo céu. Acho que o mar é apaixonado pelas estrelas, ele as tem dentro de si.

Wednesday, July 8, 2009

A culpa é como uma injeção. Não olhar para ela ajuda a doer menos. Então a dor passa sozinha e só basta esperar que ela sirva para alguma coisa.

Thursday, July 2, 2009

Na rua escura.

Eu me recuso a ser paranóico. Eu não vou deixar de andar nas ruas calmamente, nem vou tirar os aparelhos da tomada em todas as chuvas. Não é falta de prudência, é o mínimo de respeito próprio. Deixar que o mundo lá fora bagunce meu mundo aqui dentro é inaceitável. Paranóia e burrice são os extremos, eu só peço um pouco de equilíbrio a mim mesmo.
Não estão sempre falando de mim e não há ninguém me seguindo. Não tentarão arrombar minha porta, nem revirarão minhas coisas. Não vou morrer por excesso de adrenalina nem deixar de viver por medo. Simples assim.
E se algo acontecer, eu me preocupo quando acontecer. Já diz minha mãe: há mais Deus para dar do que diabo para tirar. Mamãe também diz para eu ter cuidado, e cuidado eu tenho, só não entro em pânico. Insegurança é como o desespero, nunca ajudou ninguém.
Não vou chorar pelo que ainda vai acontecer, assim como não canto vitória antes do tempo. Paz de espírito, eu mereço.
E digo ainda: me deixem em paz, fantasmas. Me recuso a ter traumas.

Tuesday, June 30, 2009

Amar dói pra cacete. E não amar é como uma morfina permanente. Não sente-se dor e não sente-se mais nada. E como andar sem sentir os próprios pés?

Triste

Só basta o ponto final. Escrever tantos climaxes me exauriu. Sem fôlego para mais palavras, sem tempo para mais vírgulas, sem inspiração para reticências. Só me basta o ponto final. Me abstenho de escrever um epílogo, o título é triste, o prólogo, doloroso... pouparei o final. Não vale a pena arrancar mais lágrimas dos personagens. Nessa história já fui príncipe, e caí do cavalo. Fui o bruxo malvado, e o feitiço se virou contra mim. Meu amor mora em um reino muito muito distante, a torre alta e sombria desmoronou sobre mim. Minha fada madrinha perdeu sua varinha, e a madrasta malvada me expulsou de casa. Meu cenários não são vales encantados, são fundos de poços. Quando rei, destronaram-me. Quando herói, desprezaram-me. Quando vilão, enforcaram-me.

Só me basta o ponto final. Só me resta o ponto final. Fim.

Te

Faço mil rodeios e te deixo tonta; fujo do assunto, invento desculpas, te faço esquecer do que estava falando. Te deixo confusa, sem jeito, sem graça, sem ar. Sou cruel sem deixar cair a auréola. Sou como um vampiro sedutor, mas que ao invés do sangue, te sugará a sanidade. Te faço pensar em mim, e faço planos com você, ao mesmo tempo que te digo que vou viver sozinho. Te mostro que dos que não prestam, eu sou o que mais presta. Com a candura de um querubim, te arranho com minhas garras diabólicas.

Sunday, June 28, 2009

Medo.

Medo de não ter medo. Porque quem tem medo, tem alguma coisa. E eu que não tenho medo e não tenho mais nada?

Thursday, June 25, 2009

.gimme malice.

.damn play

Olhar no relógio e ver o número de horas igual ao número de minutos é a brincadeira mais idiota que existe. Te faz acreditar que há alguém pensando em você. Mas não é possível saber se a quem está pensando em você é a pessoa em que você está pensando, e incomoda saber que vai durar só um minuto.

Monday, June 22, 2009

Entretenimento

"Meu único consolo de ir para o inferno é saber que vou te encontrar lá."

Pergunto-me todo momento quão quente é o fogo do inferno. Já que me condeno a ele a cada segundo, melhor saber o quanto vai doer. Quis provar um pouco de veneno para saber se a morte vale a pena, e acabei viciando. Experimentei – talvez sem querer, talvez não – todos os pecados capitais, e acabei inventando um novo tipo de heresia. Mais do que ser injusto, vaidoso, guloso; mais que negar o pão ou vender o corpo, divertir-se com sentimentos é coisa do diabo. Mato-me pouco a pouco enquanto machuco os outros. Apodreço enquanto faço a alma alheia chorar. A minha sorri amarelo e meus olhos já não são janelas, são poços. Ou fossas, como preferir. Tudo em mim é pútrido. Mascaro o cheiro de putrefação com o perfume barato do meu grande ego forjado. Por fim ainda me pergunto: será o inferno tão quente para mim? As nuvens brancas do paraíso parecem tão acolhedoras, porém cada vez mais distantes. Engulam-me logo, chama infernais, desde que me dêem um coração para brincar.

Envelheça

Maldita seja a adolescência. Maldita seja a puberdade, os hormônios e os conflitos intrínsecos a eles. Chega, já basta! Não acha que está na hora de crescer? Parar de viver sozinho e aprender a viver com você mesmo.

Você não se suporta. Claro que não! Ninguém te suporta. Ninguém aguenta ficar perto de você. Teus professores te odeiam, teus pais não sabem mais o que fazer. Nem teus amigos te suportam. Eles fingem querer ficar próximos de você para que você faça o mesmo. É claro que você não se suporta.

Ah, adolescente víbora! Só abraça teus pais quando precisa de alguma coisa. Finge que não sorri para manter a pose de incompreendido. Queima os dedos com cigarro tentando fumar, só para dizer que a vida é uma desgraça e que está muito estressado, e precisa disso para se acalmar. Brinca de crise de identidade e vazio existencial. Toma calmantes fracos e bebidas fortes. Faz sexo promíscuo, beija outros rapazes, bate a porta do quarto. Se sente maduro assim? Nem seu irmão mais novo faz isso.

Pare de fingir que é rebelde. Não faça essa cara de quem passou a noite bebendo e trepando. Não me olhe com essa expressão de quem quer me ver morrer. Não me venha com essa de que não quer mais viver, de que odeia sua família e que sua casa é um inferno.

Acorde, seu imprestável. Abaixe essa maldita música que nem você agüenta ouvir. Apague essas estas imagens bizarras que você usa para tentar me chocar. Tenta encher a cabeça de conteúdo, a vida de sentimentos, mas seu objetivo é vazio. Não use palavras mórbidas para descrever-se e pare de escrever esses malditos textos superficiais com metáforas morféticas. Sua poesia não é poesia, sua música não é música. Seu humor ácido é sem graça. Suas tatuagens vão borrar e seus piercings vão infeccionar. Esses cigarros vão te dar um tumor, e sua petulância vai te fazer levar umas bofetadas.

Hunf, seu pária. Faça algo de útil para a sociedade, vá trabalhar. Tire essas roupas escuras e corte esse cabelo. Pare de passar lápis no olho e usar esses óculos ridículos. Apague esse incenso e acenda uma vela, quem sabe sua alma seja salva. Olhe-se no espelho, essa não é sua identidade! Sua identidade é aquela que te dão na delegacia, honre o nome de teus pais.

Agora chega. Cresça. Tenha responsabilidades. Controle suas emoções. Ou melhor, reprima-as. Pare de sonhar. Tire a cabeça das nuvens e coloque o pé no chão. Abra os olhos e feche a boca. Pare de gritar e fique quieto. Seja menos impulsivo e seja mais coerente. Olhe menos para as paisagens e foque-se no caminho. Faça planos menos mirabolantes, seja mais sensato. Arranje um emprego que te dê estabilidade, e não fama. Não fique sonhando com viagens e preste atenção nos estudos. Desista de procurar um romance e ache alguém que te ajude a construir uma vida decente. Deixe de ir ao psicólogo para tratar de conflitos, e vá ao psiquiatra tratar de depressão. Largue de ser um adolescente vazio e torne-se logo um adulto vazio. Como eu.

Sunday, June 21, 2009

Mancha Seca

Amanhã tudo será diferente. Não importa o quanto nos esforcemos para deixar tudo igual, ou nosso anseio para que dure, tudo muda. Ainda que o Sol brilhe para todos, ele nunca nasce igual. A cada volta que o mundo dá, a cada passo do ponteiro, há mudanças. Os segundos nunca são os mesmos e nenhum instante é para sempre. Nenhuma alegria é um final feliz e não há ferida que não cicatrize. A lágrima salgada cura e no escuro não se vê os machucados. Por mais difícil que seja admirá-lo, é lindo o vermelho do sangue. Mas amanhã ele não mais escorrerá do corte. Será uma mancha seca. Amanhã ainda haverá dor, mas tudo será diferente. Amanhã tudo muda. Como da água para o vinho.

in case God doesn't show.

hey. how've you been?